É assim que acaba

SPOILER ALERT!!! venha ver algumas reflexões sobre esse best-seller. 

Fui ler esse livro inocentemente, achando que seria uma leitura leve de retorno de viagem. Contudo, acabei me deparando com o tema da violência contra as mulheres e me deu muitos insights.

O livro começa contando um pouco sobre como o relacionamento da personagem principal (Lily) com o marido (Ryle) foi se desenvolvendo. Ele começa de forma “leve”, inclusive com o marido afirmando que não teria interesse em se envolver em relacionamentos amorosos. Após essa primeira fase, os dois acabam se reencontrando e o relacionamento vai se estabelecendo, até que os primeiros episódios violentos começam a ocorrer. No início, a autora do livro te encaminha para gostar do personagem principal, para que você, leitor, também crie uma relação com ele. Nesse ponto, várias ações dele já haviam me deixado incomodadas. Houve um certo love bombing, com envio de flores, mensagens, declarações exageradas. Também houve um atropelo na relação, emendando inicio de namoro e casamento. Mas enfim..

Até que ocorre a primeira situação de violência. Nessa situação, os personagens Lily e Ryle estão em um “date”, e beberam um vinho. Então, eles se distraíram com a comida que estava no forno. Quando eles sentiram o cheiro de queimado, no susto, Ryle pega o recipiente quente do forno com a mão (sem proteção) e acaba queimando a mão e deixando tudo cair no chão. Lily, acha a situação engraçada, diante de todo o contexto e começa a rir. Logo após ele a agride pela primeira vez. Nesse momento, a personagem entende o que aconteceu, mas decide perdoar o namorado a época. Ele pede milhões de desculpas e ela começa a questionar a relação, tudo que eles estão construindo juntos, que ele não é “só aquela má pessoa”.

Depois no segundo episódio, ele acha o telefone de um amigo dela na capinha do celular e ele a empurra da escada. Novamente, ela o perdoa, pois descobre fato do passado do companheiro que fazem com o que ele tenha esses “lapsos” de agressividade. Ressalta-se que não são comentados os lapsos de agressividade dele em relação a outras coisas ou pessoas, apenas em relação a ela. Ela então o perdoa, lembrando dos bons momentos que passaram juntos, de como eles são um ótimo casal, apesar da violência, e como eles vivem bem.

No terceiro episódio, em um dia que estava sendo muito agradável para os dois, com o nascimento do sobrinho, ele acha os diários de Lily da adolescência e lê os mesmos. Após a leitura, sente ciúmes e começa a beber. É neste momento que ela chega em casa e ele a agride de maneira mais violenta, quebrando o celular e tenta estupra-la. Após essa tentativa ele a agride e após apagar, no dia seguinte, ela consegue pedir ajuda e sair de casa. Foi levada ao hospital, e ainda nessa parte da história, ela apresenta sentimentos ambivalentes em relação ao marido. Ele é uma boa pessoa, será que eu não poderia ter feito algo diferente? Onde foi que eu errei? Será que eu não poderia ter evitado tal situação?

Alguns pontos que eu achei interesse na forma que o livro trata da violência doméstica é abordando a escalada da violência, o ciclo da violência doméstica, inclusive a falsa sensação de controle que a personagem acha que tem diante o marido e especialmente os sentimentos ambivalentes decorrentes da situação de violência. Para um livro que foi altamente comentado e de amplo alcance, acho que é uma forma interessante de você abordar a violência e mostrar que sim, os sentimentos são mesmos ambivalentes, mas que não há justificativa no mundo para você se manter em um relacionamento abusivo e violento. 

Além disto, mostra também a importância da rede de apoio social que de alguma forma possibilita que a personagem saia da situação de violência e consiga encerrar o relacionamento.


E você, já leu esse livro?